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Discurso sobre o filho-da-puta de Alberto Pimenta

  • Centro Cultural e de Congressos de Caldas da Rainha. caldas da rainha PORTUGAL (map)

“DISCURSO SOBRE O FILHO-DA-PUTA”, DE ALBERTO PIMENTA, PELO TEATRO DA RAINHA,

Centro Cultural e de Congressos de Caldas da Rainha.

FERNANDO MORA RAMOS - encenação,
MIGUEL AZGUIME - composição

A música no “Discurso sobre o filho-da-puta”

Desde há muito que procuro fomentar no meu trabalho, um estado de “integração” entre o semântico e o fonético - música enquanto texto e texto enquanto música, talvez pelo ofício múltiplo que caracteriza a minha actividade artística, repartida entre o intérprete, o performer, o compositor e o poeta.

Abordar este texto prodigioso estava faz tempo no horizonte, não só por aquilo que enuncia e pela sua intemporalidade – e como tal actualidade, mas também porque nele se projectava uma cumplicidade crescente de ideais e de pesquisa com o Fernando Mora Ramos, por conseguinte a vontade de uma parceria criativa entre o Teatro da Rainha e a Miso Music Portugal.

O “Discurso sobre o filho-da-puta” oferece-nos do ponto de vista musical uma quase partitura, pelas características com propriedades sonoras da escrita poética de Alberto Pimenta, e contém pois, desde logo, os elementos propícios a uma repartição por várias vozes, de um personagem simultaneamente uno e múltiplo.

Por outro lado, é ritual e conforma ironicamente, práticas comuns aos concertos de música erudita, tanto pelo protocolo exacerbado, como pela carga simbólica, mas também pelo rigor e a depuração do gesto, do gesto poético tornado gesto musical.

O “Discurso” acolhe assim um quarteto de actores, como se um quarteto de músicos se tratasse, quarteto de cordas vocais pois, para dar voz a um discurso coral no qual a palavra se faz música e se organiza em timbres, ritmos, harmonias, melodias; ora em uníssono, ou em homofonia, ou em heterofonia, ou em polifonia, ou em contraponto.

Assim mais do que ser música acrescentada ao texto poético de Alberto Pimenta, a música que aqui está em causa é sobretudo o reconhecimento e o desvendamento da música que o texto já contém, dando a ouvir diversamente, dando a ouvir de novo; e assumindo a palavra na sua vocalidade plena; e a voz falada nas suas extraordinárias possibilidades de emissão múltipla, sonoras e expressivas.

 

Miguel Azguime

Financiamento

República Portuguesa - Cultura | Direcção-Geral das Artes